A
Matemática e o dinheiro: à vista ou a prazo?
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
Um dos problemas
mais comuns de encontrarmos no nosso dia-a-dia refere-se à decisão
de comprar à vista ou a prazo uma determinada mercadoria. Somos
sempre tentados pela propaganda, com promoções do tipo “20% de
desconto à vista ou em três vezes sem acréscimo”. A melhor
decisão dependerá de uma série de fatores, como taxas de juros e
disponibilidade do comprador.
Vamos mostrar
aqui que, mais uma vez, o valor do dinheiro no tempo, os fatores de
correção e as progressões geométricas serão fundamentais para
nossa escolha correta.
É claro que
existirão casos em que as opções serão equivalentes e, nesses
casos, tanto faz uma escolha ou outra. Vejamos um exemplo: Júlia
conseguiu um tipo de investimento que lhe paga juros de 5% ao mês
pelo dinheiro que aplicar. Ela entrou numa loja e viu que uma calça
jeans pode ser comprada à vista por 80 reais ou ser adquirida com um
cheque pré-datado, para 30 dias, por 84 reais. Repare que, neste
exemplo, as duas opções são equivalentes, pois se ela aplicar os
80 reais por 30 dias, vai receber de juros 4 reais (5% de 80) o que
permitirá exatamente cobrir o cheque pré-datado.
Portanto, todas
as decisões que envolvem compras ou investimentos estão apoiadas no
fato de o valor que o dinheiro terá ou teve numa outra data,
levando-se em conta a taxa de juros que incide sobre os valores
aplicados (pode ser a da caderneta de poupança, por exemplo).
Logo,
se a taxa vigente para as aplicações (taxa de atratividade do
mercado) for de 3% ao mês, 100 reais hoje valerão 103 reais em um
mês, valerão 106,09 reais em dois meses (multiplicando 100 ×
1,032),
valerão 109,27 reais em três meses (multiplicando 100 ×
1,033),
e valerão 100 ×
1,03n
daqui a n
meses.
Verifique que o
fato que mostramos nada mais é que a utilização prática da
fórmula dos juros compostos.
Podemos assim
resumir o que acabamos de mostrar:
Um
valor monetário M,
valerá daqui a n
meses, aplicado sob taxa fixa i,
ao mês, M
×
(1
+ i)n.
(Com a taxa i
expressa na sua forma decimal.)
M
→
(valorização no tempo) → M
×
(1
+ i)n
Analogamente,
caso o valor fosse considerado num período anterior, ou seja, n
meses ou períodos antes, o valor do dinheiro seria igual a M
÷
(1
+ i)n.
M
→ (desvalorização no tempo) → M
÷
(1
+ i)n.
Podemos
afirmar que na Matemática Financeira, no regime de juros compostos,
todos os problemas se resolvem com o que acabamos de mostrar. O valor
do dinheiro numa data futura fica multiplicado por (1 + i)n
(ou Fn)
e numa data anterior, fica dividido por (1 + i)n
(ou Fn).
Exemplo
1:
Lídia comprou um relógio, com uma taxa de juros de 5% ao mês e a
última parcela, de 80 reais, teria de ser paga no dia 10 de setembro
de 2002. Acontece que Lídia ganhou um dinheirinho extra e está
propondo à loja, pagar a sua dívida no dia 10 de agosto de 2002, ou
seja, um mês antes da data estipulada. Quanto Lídia terá de pagar?
Solução:
Como se trata de uma antecipação de pagamento é claro que Lídia
pagará um valor menor. Aplicando o que vimos anteriormente, o valor
será igual a 80 ÷ (1,05) = 76,19
reais.
Exemplo
2:
Vinícius tomou um empréstimo de R$ 5 000,00 a juros mensais de 5%.
Dois meses depois, ele pagou R$ 2 500,00 e, um mês após esse
pagamento, liquidou seu débito. Qual o valor desse último
pagamento?
Solução:
Seja
P
o valor do pagamento feito no mês da liquidação do débito. Temos
o seguinte: 2 500 ×
1,05
+ P
= 5 000 ×
(1,05)3.
Daí, segue-se que 2 625 + P
= 5 788,13. Logo, P
= 3 163,13.
Resposta:
Vinícius
deverá pagar uma segunda parcela de R$ 3 163,13.
[O que fizemos foi
o seguinte: “empurramos” todos os valores para uma mesma data
(por exemplo, para o mês 3) e igualamos as entradas (empréstimo) às
saídas (pagamentos periódicos).]
Nota:
Entendemos
que fica mais fácil perceber o que está ocorrendo mostrando um
gráfico da situação – é o que chamamos de fluxo de caixa. O
leitor interessado poderá fazer tal gráfico.
Exemplo
3:
Uma loja oferece uma mercadoria à vista por 400 reais ou então em
duas parcelas iguais de 220 reais (para 30 e 60 dias). Qual a taxa de
juros sobre o saldo devedor que está sendo cobrada pela loja?
Solução:
Nesse caso está faltando o valor da taxa de juros cobrada, sugerimos
chamar a incógnita do problema de F,
que é o nosso fator de correção. Fica mais simples trabalhar com
essa variável do que com 1 + i.
No final do problema, subtraindo 1 do valor encontrado, teremos a
taxa procurada.
Sugerimos
agora “empurrar” todos os valores para a data 2 e igualar as
entradas (valor à vista) às saídas (prestações). Assim, temos:
400F2
= 220F
+ 220 → 40F2
= 22F
+ 22 ou 20F2
– 11F
– 11 = 0.
Resolvendo
a equação do segundo grau, obteremos F
≅
1,067. (Note que só
nos serve a resposta positiva.)
Logo,
1 + i
= 1,067 ou i
= 0,067 ou ainda i
= 6,7%.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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