segunda-feira, 29 de julho de 2013

Os 10 mandamentos da redação nota 10


Os 10 mandamentos da redação nota 10
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

  1. Seja adequado

A língua se parece a imenso armário. Nele há todos os tipos de roupas. O desafio: escolher a mais adequada para o momento. A piscina pede biquíni. O baile de gala, longo e black-tie. O cineminha, traje esporte. Trocar as vestes tem nome. Inadequação.
O mesmo princípio orienta o texto. Horóscopo exige palavras abstratas e genéricas. Dirá que o domingo trará surpresas. Jamais que a pessoa ganhará na loteria ou comprará um carro. Se e-mails, redações de concurso e provas de vestibular usarem a língua do horóscopo, terão destino certo – a reprovação. Não se trata de certo ou errado, mas de adequado ou inadequado.

  1. Seja claro

Montaigne, há 400 anos, disse que o estilo tem três virtudes. A primeira: clareza. A segunda: clareza. A terceira: clareza. Graças a ela o receptor entende a mensagem sem ambiguidades. Como ensina Íñigo Dominguez, “uma frase tem de estar construída de tal forma que não só se entenda bem, mas que não se possa entender de outra forma”.

  1. Seja preciso

A precisão tem íntima relação com as palavras. Buscar o vocábulo certo para o contexto é trabalho árduo. Exige atenção, paciência e pesquisa. Consulte dicionários e textos especializados.

  1. Seja natural

Imagine que o leitor, o ouvinte ou o telespectador esteja à sua frente conversando com você. Sinta-se à vontade. Faça pausas e perguntas diretas. Dê ao texto um toque humano. Você se dirige a pessoas de carne e osso.

  1. Seja fácil

No mundo de corre-corre, queremos textos curtos, precisos e prazerosos. Rapidez de leitura fisga. Pra chegar lá, opte por palavras familiares. Informe – rápido e bem. Respeite a memória do leitor. Ele só consegue reter determinado número de palavras. Depois, os olhos pedem uma pausa. Escolha bom título. Prefira a ordem direta. Evite intercalações. Vacine-se contra redundância, pedantismo e verborragia. Escreva frases curtas. “Uma frase longa”, escreveu Vinícius, “não é nada mais que duas curtas.”

  1. Seja leve

Não canse quem o prestigia. Nem o obrigue a ter o dicionário ao lado. Muito menos a voltar atrás para recuperar o que foi dito. Respeite-lhe o tempo, os ouvidos e o bom gosto. Em suma: busque a frase elegante, capaz de veicular com clareza e simplicidade a mensagem que você quer transmitir.

  1. Seja respeitoso

Boa parte das pessoas se indigna com palavrões, obscenidades e expressões chulas. Só os acolha em situações excepcionais. É o caso da manifestação de alguém quando a palavra tiver indiscutível valor informativo ou reflita a personalidade de quem a profere.

  1. Seja surpreendente

Surpresa chama a atenção e desperta a curiosidade. É o gosto pelo inusitado. O chavão vai de encontro à novidade. Palavra ou expressão, tantas vezes repetida, perde o viço. Pontapé inicial, abrir com chave de ouro, chorou um rio de lágrimas, ver com os próprios olhos, cair como uma bomba & Cia. tiveram frescor algum dia. Hoje soam como coisa velha. Transmitem a impressão de profissional preguiçoso, desatento ou malformado. Em bom português: incapaz de surpreender.

  1. Seja dinâmico

Água parada apodrece. Exala mau cheiro que espanta os próximos e deixa os distantes de sobreaviso. Só o movimento a mantém viva. O mesmo ocorre com a língua. Frases mornas e tediosas afugentam o leitor. Ele larga a leitura e interrompe a navegação na internet. Seja dinâmico. Vá logo ao ponto. Abuse de verbos e substantivos concretos. Prefira a voz ativa. Fuja de adjetivos e advérbios. Evite palavras longas e pomposas. Opine. Não ache.

  1. Seja gentil

As palavras carregam carga ideológica. Algumas mais, outras menos. A sociedade está atenta aos vocábulos que reforçam preconceito. Fuja deles. Cor, idade, peso, altura, origem, condição social e preferências sexuais são as principais vítimas.
Gentileza não se restringe a palavras. Atinge os períodos, passa pelos parágrafos, chega ao texto completo. Ao se expressar, comece pelo mais importante. E comece bem, com uma frase atraente, que desperte o interesse e estimule a vontade de avançar até o fim. Aí, ofereça o prêmio cuidadosamente escolhido: um fecho marcante, tão forte quanto a introdução. Lembre-se: a última impressão é a que fica. Sempre, principalmente no texto.

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Como estudar Redação para o Enem 2013


Como estudar Redação para o Enem 2013
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Resumo: Técnicas e dicas para você se dar bem na produção da redação do Enem.

Primeiramente, atenção aos limites! A redação, obrigatoriamente uma texto dissertativo-argumentativo, deve ter no mínimo sete linhas e no máximo trinta.

Algumas competências que são avaliadas:

  1. Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita;
  2. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos da várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo;
  3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
  4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
  5. Elaborar proposta de solução para o problema abordado, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Essas são as competências que serão avaliadas dos candidatos. Portanto, é bom tê-las em mente quando estiver elaborando seu texto.
Referente à quinta competência, um dos aspectos importantes a ser destacado é quanto à proposta de solução do problema abordado. Tal intervenção, além de não revelar uma posição ideológica comprometedora, deve ser factível, realizável. Por exemplo, prender todos os criminosos NÃO é uma solução para acabar com a violência urbana!

Seguem-se outras dicas que você deve se lembrar na hora da redação:

  1. Cuidado com palavrões, chavões e piadas;
  2. Capriche na caligrafia;
  3. Atenção na ortografia e na gramática, pois você pode perder pontos valiosos com esses deslizes;
  4. Embora seu texto tenha os limites de 7 e 30 linhas, tente fazer em torno de 20. Com muito menos fica impossível defender suas ideias e com muito mais seu texto pode ficar cansativo e obrigar o corretor a lê-lo rapidamente, o que claramente não é interessante.

E para estudar (treinar), como proceder?

Primeiramente, escreva muito! Afinal, não se deixe enganar com a frase “quem lê bastante, escreve bem”. Isso não é necessariamente verdade. Quem lê muito, lê bem. Para escrever bem tem que escrever muito. Uma redação por semana é o (mínimo) recomendável!
Estou certo de que, seguindo essas sugestões, sua confiança na hora de produzir sua redação irá aumentar significativamente.

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ENEM: exigências da prova


ENEM: exigências da prova
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Os eixos cognitivos cobrados no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) são o resultado da associação de várias competências e habilidades que o candidato tem de ter adquirido durante sua vida e, sobretudo, durante as horas de estudo. Os principais eixos são os seguintes:

1. Dominar linguagens. Dominar a norma culta da língua portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica.
O ENEM cobra linguagens mínimas de todas as áreas do conhecimento. Dizemos que elas são os conteúdos básicos que os alunos precisam acumular para que, durante a vida, possam aprender qualquer conteúdo necessário. Na lista de conteúdos mínimos estão, por exemplo, a capacidade de efetuar com destreza as operações fundamentais com números e a utilização destas habilidades na solução de problemas concretos, o conhecimento de mapas, eletricidade e genética básica e o domínio razoável do português culto.
Para aprendizagem de qualquer conteúdo, o ENEM também lista alguns conteúdos mínimos que não são necessariamente linguagens, mas que considera necessário para que o aluno esteja integrado ao mundo contemporâneo. Como exemplo, temos a geração e os impactos social, econômico e ambiental da geração de energia, as tecnologias de informação, principalmente as novas, os direitos conquistados pelo povo em suas lutas e o entendimento da formação e funcionamento das instituições políticas contemporâneas.
2. Compreender fenômenos. Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas.
De nada adianta conhecimento, conteúdo e aprendizado das linguagens que vão possibilitar que o aluno aprenda conteúdos por toda a vida se isso não for processado de forma cognitiva, de forma que os conteúdos ganhem um significado para o aluno.
3. Entender situações-problema. Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema.
No ENEM, o terceiro eixo cognitivo cobrado vem com o texto que fala em “entender situações-problema”. É importante lembrar que a ordem dada pelo ENEM aos eixos cognitivos não significa, necessariamente, que eles acontecem nessa ordem em nossas cabeças. É claro que, antes de compreender fenômenos, entender problemas, resolvê-los, é preciso que o aluno tenha o domínio mínimo das linguagens de uma ou de várias das quatro áreas do conhecimento cobradas no ENEM, mas há vezes em que sabemos o básico e corremos atrás de outras informações/conteúdos para resolver um problema. No caso da prova do ENEM, muitas vezes temos o domínio das linguagens que estão nos textos, e os mesmos nos trazem outros conteúdos que facilitam a resolução das questões.
Entender o problema, para o ENEM, é relacionar os dados disponíveis, organizá-los, interpretá-los, buscar mais dados e tornar o problema bem claro, algumas vezes tirando-o do senso comum, dando a ele uma lógica baseada em dados reais. No ENEM, esses dados poderão estar no enunciado da questão ou terão que vir do seu acúmulo de estudos.
4. Construir argumentações. Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente.
É claro que em uma prova objetiva, em que o aluno tem que assinalar a opção correta, é impossível que ele “construa argumentação”. Neste eixo cognitivo, o ENEM espera que você “julgue” as argumentações que aparecem nas alternativas. Ajuda muito se você, nas questões que apresentam argumentações em suas alternativas, estiver bastante atento para a consistência de tais argumentações.
5. Elaborar propostas éticas. Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.
O eixo cognitivo é muito claro em afirmar que a proposta, ou a resolução do problema, tem que se dar de forma ética. Como “ética” é algo subjetivo, para que não restem dúvidas ao aluno, a leitura da “Matriz de Competências” do ENEM deixa clara sua definição de ética e como o ENEM espera que o aluno se comporte respondendo à prova e atuando em sociedade.

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Você tem que encontrar o que você ama


Você tem que encontrar o que você ama
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Todos nós temos que acreditar em alguma coisa – na nossa garra, vida, vocação ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca nos decepcionará e fará toda a diferença.
Às vezes, a vida bate com um tijolo na nossa cabeça. No entanto, não devemos perder a fé. A única coisa que nos permite seguir adiante é o amor pelo que fazemos. Nós temos que descobrir o que nós amamos. Isso é verdadeiro tanto para o nosso trabalho quanto para com as pessoas que nós amamos.
Nosso trabalho vai preencher uma grande parte da nossa vida, e a única maneira de ficarmos realmente satisfeitos é fazendo o que nós acreditamos ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazermos um excelente trabalho é amando o que fazemos.
Para quem ainda não encontrou o que é (ou o que quer ser), a procura deve continuar. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você encontrar. Não sossegue.
Há uma frase que diz o seguinte: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Isto deve fazer com que olhemos para nós mesmos e perguntemos: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sabemos que precisamos mudar alguma coisa.
O nosso tempo é limitado, então não o gastemos vivendo a vida de um outro alguém.
Não devemos ficar presos pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.
Não devemos deixar que o barulho da opinião dos outros cale a nossa própria voz interior.
E o mais importante: devemos ter a coragem de seguir o nosso próprio coração e a nossa intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que realmente queremos ser. Todo o resto é secundário.
Na contracapa do livro Whole Earth Catalog, de Stewart Brand estavam as palavras: “Continue com fome, continue bobo.”
Foi uma mensagem de despedida. Continue com fome, continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês terminam uma etapa e começam outra, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos.
Lembrem-se SEMPRE: “Cultivar a curiosidade e o desejo de aprender é a base para o sucesso.”
Saber dar tempo ao sucesso, com perseverança e dedicação é um grande segredo.
Seja excelente! Seja diferente! E você terá sucesso – fazendo o que fizer, onde estiver. Acredite!
Sucesso!

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Vocação profissional: qual é a sua?


Vocação profissional: qual é a sua?
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

O termo “vocação” deriva da palavra latina “vocatio” que significa convite, que quer dizer chamada ou convocação.
Cada um tem não só o direito, mas o dever de tornar a vida proveitosa, útil e benéfica, escrevendo o destino e fixando o alvo de atuação. Este alvo não pode ser distante das possibilidades. A raiz da palavra vocação é “vox”, isto é, voz. A vocação forma um processo de escolha, não se dá de uma hora para outra, ela vai se formando conforme você se relaciona com o meio.
Você pode ter várias carreiras e cursos em mente, e pode ser que se identifique mais com uma do que com outras, mas não necessariamente gostaria de exercer aquela profissão. Isso pode realmente acontecer. Lembre-se, acima de tudo, que você não está escolhendo apenas um curso ou uma faculdade, você está escolhendo um trabalho, o qual você estará exercendo a maior parte da vida em atividades prerrogativas à profissão de escolha.
Informações: Como sugestão, procure informações sobre as profissões, não fique tão preocupado com as matérias. Não é porque uma pessoa gosta de Matemática que isso signifique que ela necessariamente tenha que fazer Engenharia ou cursos na área de exatas. Se você sente uma vocação para determinada área ou está mais voltado para alguns cursos, pesquise intensamente sobre eles.
A pesquisa é importante na medida em que o mercado hoje em dia abre um enorme leque de opções de cursos deixando, muitas vezes, os alunos mais indecisos com tantas possibilidades existentes. Por isso, a sugestão de sempre é procurar informações nos sites especializados no assunto, faculdades, manuais de profissões, entrevistar profissionais das áreas e coordenadores de cursos das faculdades em que você pretende ingressar. Se as dúvidas estiverem o preocupando bastante, outra sugestão é procurar serviços de orientação vocacional.
Sabe-se que para alguns é um pouco mais difícil escolher, e que estas ajudas não são suficientes, fazendo-se necessária a consulta do especialista. Por isso, existem certos programas de orientação profissional bem interessantes, aplicados por psicólogos especializados, principalmente aqueles que se baseiam em dinâmicas e privilegiam o autoconhecimento, informações profissionais e projeto de vida.
Teste: O que fazer quando o teste aponta algo que não tem nada haver com você? Sua dúvida sobre os testes deve ser a mesma que a de várias pessoas. Em primeiro lugar, faz-se necessário uma explicação sobre os testes. Estes servem apenas para nortear o trabalho do psicólogo, dar indícios sobre algo e nunca podem ser considerados como uma resposta final, imutável e absoluta. Estes devem ser encarados como um instrumento a mais e nunca a palavra final. Portanto, os testes falham. Nessas situações tanto o aluno como os profissionais não devem se basear apenas nos testes.
Para exemplificar melhor, por ano são abertos vários cursos diferentes no Brasil; há uma grande variedade de cursos novos, seja em nível superior ou técnico, e muitos testes nem sequer mencionam tais cursos já que muitos deles nem existiam quando os testes foram criados. As profissões de Webdesigner e Musicoterapia, por exemplo, não existiam há dez anos, época em que muitos dos vários testes que são utilizados até hoje já eram usados.
Interesses: Os testes vocacionais, portanto, são apenas instrumentos para ajudar no processo de decisão. Eles servem apenas para dar uma ideia, para nortear sobre as profissões que você poderia exercer de acordo com seus interesses, facilidades e habilidades. Porém, a pista não é definitiva e infalível, apenas dá um referencial sobre aquilo que você é ou que você fará, possibilitando inclusive que você tenha uma maior consciência para realizar suas escolhas e organizar seus projetos de vida.
Podem não aparecer profissões que talvez sejam interessantes para você, que poderia desempenhar muito bem, assim como outras possam aparecer, mas nem por isso despertar seu interesse ou não estarem relacionadas com suas habilidades. O teste serve principalmente para ajudar você a revelar um pouco mais do que você sabe descrever de suas características. Assim, não se baseie exclusivamente nos testes. O teste não é um atestado final do que você fará ou não.

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Uma entrevista virtual sobre o ensino da Matemática


Uma entrevista virtual sobre o ensino da Matemática
(Entrevista selecionada por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Um estudo feito pelo Ministério da Educação mostra que o ensino de Matemática nas escolas brasileiras foi o que pior desempenho teve entre todas as matérias do currículo normal nos últimos anos.
Por conta disso, o professor Elon Lages Lima foi entrevistado pelo Jornal do Brasil e (duas vezes) pela TV Educativa do Rio de Janeiro. No que segue, ele tenta resumir algumas coisas que disse naquelas ocasiões, ou que pensa ter dito, ou que deveria ter dito. Pouco importa se o registro não é exato. Estas são as opiniões dele, hoje como ontem.

P. são as perguntas feitas e R. são as respostas do professor Elon.

P. Por que o ensino da Matemática vai tão mal?
R. Todo o ensino vai mal.
P. Mas o da Matemática vai pior.
R. Entre muitas coisas más, uma delas é sempre pior do que as outras.
P. Há algum motivo para a Matemática ir pior?
R. Há vários.
P. Um dos motivos seria o fato de a Matemática ser mais difícil?
R. Não. Qualquer criança cuja capacidade mental lhe permita aprender a ler e escrever é também capaz de aprender a Matemática que se ensina da 1ª à 4ª série. Mais geralmente, todas as matérias que se ensinam no Ensino Fundamental apresentam essencialmente o mesmo grau de dificuldade e nenhuma delas exige pendores, habilidades ou talentos especiais para aprendê-la.
P. Então todo jovem normal é, em principio, capaz de aprender toda a Matemática que deve ser ensinada até a 8ª (9ª) série?
R. Absolutamente, sim. Sem dúvida.
P. E isso, de fato, acontece?
R. No Brasil, não. Noutros países (como, por exemplo, o Japão), sim.
P. Isso quer dizer que os jovens desses países são mais inteligentes do que os nossos?
R. De maneira nenhuma. Nem mais nem menos. Há, por exemplo, brasileiros de descendência japonesa em número suficiente para vermos que não é assim.
P. Você disse que são vários os motivos para o baixo rendimento no ensino da Matemática. Quais são eles?
R. Antes disso, eu havia dito que todo o ensino vai mal. Por isso acho melhor começar por aí. Os países ricos, aqueles onde o povo tem uma vida mais confortável, são precisamente aqueles em que as pessoas têm acesso a uma educação de melhor qualidade. Isso significa escolas bem equipadas e professores competentes. Esse quadro resulta da conscientização, arraigada na cultura nacional, de que a educação, além de ser a única porta para o bem-estar, é um direito do cidadão e um dever do Estado.
P. Como poderíamos esperar professores competentes no Brasil, com salários tão baixos?
R. Os salários dos professores brasileiros que atuam no primeiro e segundo graus são simplesmente vergonhosos. Humilhantes. Por isso as escolas têm tanta dificuldade para recrutar professores capazes e os cursos de licenciatura estão vazios. Entretanto, os baixos salários não são, em si, a causa primordial do problema. São antes uma consequência de não ter o nosso povo a noção exata do valor da educação e daí seus representantes eleitos padecerem do mesmo mal. Se houvesse entre nós a conscientização a que me referi acima, haveria o reconhecimento da importância dos professores e isso se refletiria nos seus salários, como ocorre nos países civilizados.
P. Podemos agora focalizar a Matemática?
R. Sim. Ao contrário das demais matérias que se estudam na escola, que se referem a objetos e situações concretas, a Matemática trata de noções e verdades de natureza abstrata. Aliás, essa é uma das razões da sua força e sua importância. A afirmação 2 x 5 = 10 tanto se aplica aos dedos de duas mãos quanto aos jogadores que disputam um jogo de basquete. A generalidade com que valem as proposições matemáticas exige precisão, proíbe ambiguidades e por isso requer mais concentração e cuidado por parte do estudante. Por outro lado, o exercício dessas virtudes durante os anos de escola ajuda a formar hábitos que serão úteis no futuro. A perseverança, a dedicação e a ordem no trabalho são qualidades indispensáveis para o estudo da Matemática. Note-se que não se trata de talentos e que não se nasce dotado delas.
P. Então, afinal de contas, a Matemática é mais difícil?
R. Se o fato de exigir empenho, atenção e ordem significasse ser mais difícil, a resposta (relutante) seria sim. As ideias e regras matemáticas no nível que estamos considerando são, porém, todas extremamente simples e claras, bem mais simples e claras, por exemplo, do que as regras da crase (ou mesmo do que a lei do impedimento no futebol). Por isso, continuo afirmando que toda pessoa de inteligência média, sem talentos ou pendores especiais, pode aprender toda a Matemática do Ensino Fundamental, desde que esteja disposta a trabalhar e tenha uma orientação adequada. Aqui já vão dois dos motivos que você me pediu para o mau resultado no ensino da Matemática: pouca dedicação aos estudos por parte dos alunos (e da sociedade que os cerca, a começar pela própria família) e despreparo dos seus professores nas escolas que frequentam.
P. Ainda há outros?
R. Não se esqueça do motivo primordial, a que aludi acima: a falta de um reconhecimento nacional de que sem educação não há progresso e o consequente descaso oficial pelo sistema escolar. Mas há outros, sim. O conhecimento matemático é, por natureza, encadeado e cumulativo. Um aluno pode, por exemplo, saber praticamente tudo sobre a proclamação da república brasileira e ignorar completamente as capitanias hereditárias. Mas não será capaz de estudar Trigonometria se não conhecer os fundamentos da Álgebra, nem entenderá essa última se não souber as operações aritméticas, etc. Esse aspecto de dependência acumulada dos assuntos matemáticos leva a uma sequência necessária, que torna difícil pegar o bonde andando e muitas vezes provoca uma síndrome conhecida como “ansiedade matemática”.
P. Que é isso?
R. É o medo que algumas pessoas têm da Matemática. No passado ele era repartido com o medo do Latim, mas este foi abolido, juntamente com quase tudo que requeria trabalho no currículo escolar. Restou a Matemática, mas as pessoas costumam disfarçar sua ansiedade matemática com um aparente (e curioso) orgulho que as leva a vangloriarem-se de que são péssimas nessa matéria, que sempre a detestaram, etc. É engraçado que muitas dessas pessoas escrevem mal, mas não admitem isso. Ninguém se orgulha de dizer que escreve chuva com “x”, que não emprega corretamente a crase ou que diz “aluga-se bicicletas”.
P. Qual é a origem da ansiedade matemática?
R. São várias. Uma das mais frequentes é a tentativa de aprender um assunto sem estar preparado para ele. Outra é passar os anos escolares nas mãos de professores incapazes, que muitas vezes usam a arrogância, a ironia e a humilhação como disfarces para sua ignorância e com isso provocam aversão à matéria que deviam ensinar. Há também a mera preguiça de pensar.
P. Aos poucos você vai revelando os motivos para o pouco êxito no ensino da Matemática: Em primeiro lugar, o sentimento de que a educação é o caminho para o bem-estar não é suficientemente forte no espírito do nosso povo. Esse é o motivo fundamental, no seu entendimento. Os demais são: (1º) A Matemática, por ser exata, requer atenção, cuidado e ordem. (2º) O conhecimento matemático é cumulativo; cada passo precisa dos anteriores. (3º) Raramente a Matemática é bem ensinada. Você tem alguma proposta para melhorar esse estado de coisas?
R. Quanto ao motivo primordial, ele tem a ver com o amor-próprio nacional. Em 1806, depois da batalha de Jena, onde o exército prussiano teve seu orgulho esmagado por Napoleão, os alemães concluíram que desenvolvimento (e, em última análise, força) depende substancialmente de educação. E processaram uma reforma radical. O sistema educacional tornou-se central na sociedade. As universidades foram modificadas e os professores secundários ganharam alto prestígio social. O progresso do país, a partir daí, foi notável. Exemplos mais recentes de ressurgimento das cinzas com base na educação podem ser vistos no Japão e na Coréia. No nosso caso, que se pode fazer? Talvez gritarmos bem alto: “Brasileiros, criem vergonha na cara!”.
Quanto às peculiaridades da Matemática, ela é importante porque é exata, geral e se ocupa das noções mais básicas da vida humana: número e espaço. Deixemo-la assim e amemo-la por isso.
Finalmente, quanto ao ensino, não há mistério nem milagre. O bom professor é aquele que vibra com a matéria que ensina, conhece muito bem o assunto e tem um desejo autêntico de transmitir esse conhecimento, portanto se interessa pelas dificuldades de seus alunos e procura colocar-se no lugar deles, entender seus problemas e ajudar a resolvê-los. Não há fórmulas mágicas para ensinar Matemática. Não há caminhos reais, como Euclides já dizia a Ptolomeu. A única saída é o esforço honesto e o trabalho persistente. Não só para aprender Matemática, mas para tudo na vida.
P. Devo entender que você não tem proposta a fazer?
R. Pelo contrário, tenho algumas.
Diante do exposto, a única ação viável deve ser dirigida ao professor, visando melhorar a qualidade do seu trabalho. O problema é bem menor nas escolas particulares, onde é possível manter os bons professores melhorando seus salários e se livrar dos piores demitindo-os (é possível, mas nem sempre isso é feito). Na escola pública, que abriga a vasta maioria dos alunos (e que deveria abrigar todos), a situação é mais complicada. Aumentar simplesmente os salários nada resolve porque a qualidade dos professores que nela trabalham não vai melhorar por isso. Se o problema do professorado consiste em mau preparo e baixos salários, as duas coisas devem atacadas simultaneamente.
Penso que deveria haver todo ano um exame nacional para habilitação de professores, feito em três níveis: 1ª a 4ª séries, 5ª a 8ª (9ª) e Ensino Médio.
Penso que deveria haver uma tabela salarial especial para professores aprovados nesse exame.
Penso que o ensino até a 8ª (9ª) série deveria ser obrigatório, com o mesmo currículo para todos os estados do país.
Penso que o poder público deveria instituir programas de capacitação, a fim de preparar os professores para os exames de habilitação.
Penso que o Ensino Médio deve continuar sendo bifurcado, não em clássico ou cientifico, como era antigamente, mas em acadêmico e profissional, devendo este último preparar diretamente o jovem para o mercado de trabalho.
Estas são, em resumo, as propostas do professor Elon.

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Trabalho e felicidade


Trabalho e felicidade
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Pesquisas mostram que o que mais as pessoas desejam em relação a seu emprego é que o trabalho lhes dê um sentimento de missão e propósito.
Entretanto, essas mesmas pessoas buscam um trabalho, uma profissão ou um emprego em função do salário ou da compensação financeira que eles possam dar. Muitas dessas pessoas vivem em busca de respostas a perguntas como: “qual a profissão que dá mais dinheiro?” ou “qual a profissão que está 'mais na moda'?” e até mesmo “qual aquela que me deixará rico(a) mais rapidamente?”
Ora, quem busca uma profissão pelo retorno financeiro e não pela realização pessoal que ela proporcionará, será quase um milagre se as duas coisas se conciliarem na mesma atividade. As pessoas de hoje, principalmente as mais jovens, não acreditam que o dinheiro seja consequência de um trabalho dedicado, feito com prazer, alegria, amor e comprometimento. O que se observa é a busca de um emprego bem remunerado e estável, independente de qualquer consideração de prazer por aquilo que se faz. A ideia que parece existir é a de que com o dinheiro de um emprego qualquer, desde que bem remunerado, a pessoa buscará (fora do emprego) o seu prazer, a sua realização pessoal. Isso parece um grande ENGANO!
Agindo assim, as pessoas passam 40 horas (ou mais) por semana fazendo o que não gostam, para tentar nas horas restantes e nos finais de semana, fazer o que realmente sentem prazer. Aqui estar uma das maiores razões da infelicidade nos dias de hoje. As pessoas fazem de seu trabalho um castigo bem remunerado e às vezes nem tão bem, em vez de buscar fazer no mundo do trabalho aquilo que lhes dá prazer, alegria, satisfação.
Fazendo o que não gostam elas fazem tudo com baixa qualidade, atendem mal seus clientes internos e externos, têm verdadeiro pavor em servir, vivem estressadas, sentem-se escravizadas pelo relógio ou por um chefe que igualmente está ali somente pelo salário.
Muitos dirão que é fácil dizer tudo isso mas que é muito difícil fazer profissionalmente aquilo que se gosta e tem prazer. Sei bem disso, é claro. O que penso é que as pessoas devem buscar esse objetivo na vida e não desistir antecipadamente. As pessoas não acreditam mais sequer em buscar fazer aquilo que gostam como objetivo profissional mesmo como empregados ou colaboradores de uma empresa, pois quando falamos em se fazer o que se tem prazer, logo pensamos em ser um empreendedor individual ou empresário — e isso nem sempre é possível ou mesmo desejável. Existem pessoas muito felizes, fazendo aquilo que realmente sentem prazer em fazer como funcionários privados ou públicos. Fazendo o que gostam elas buscam a cada dia gostar ainda mais do que fazem e esse círculo virtuoso traz a excelência, a satisfação, o prazer e, como consequência, a tão desejada promoção.

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As ternas pitagóricas


As ternas pitagóricas
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Muito frequentemente, mencionamos em sala de aula a terna de números pitagóricos 3, 4, 5. Uma forma natural de introduzi-la é, após o estudo do Teorema de Pitágoras, propor à classe encontrar as medidas dos lados de um triângulo retângulo sabendo que são números inteiros e consecutivos. Podemos, em seguida, propor a generalização natural desta questão: determinar todas as ternas de números inteiros que sejam as medidas dos lados de algum triângulo retângulo. Explicamos, então, que uma terna de tais números é chamada reduzida se seus componentes não tiverem fator comum distinto da unidade.
A resposta para essa questão é dada pelo seguinte teorema:
Se p e q tomam todos valores inteiros, restritos somente às condições
  1. p > q > 0,
  2. p e q são primos entre si,
  3. p e q não são ambos ímpares,
então as expressões x = p2 – q2, y = 2pq, z = p2 + q2 fornecerão todas as ternas pitagóricas reduzidas, e cada terna somente uma vez.
Normalmente encerramos a questão por aqui. Há, porém, uma curiosidade perfeitamente pertinente que podemos acrescentar, enriquecendo o assunto. Trata-se da seguinte propriedade:
Em qualquer terna pitagórica reduzida, os números 3, 4 e 5 estão presentes.
Devemos entender que 3, 4 e 5 estão presentes como fatores dos elementos da terna, eventualmente os três números como fatores de um mesmo elemento. Por exemplo, usando o teorema mencionado anteriormente com p = 6 e q = 5, obtemos a terna pitagórica reduzida (11, 60, 61) onde 3, 4 e 5 são fatores de 60.
Para demonstrar a propriedade, usamos o teorema mencionado. Seja então uma terna pitagórica (p2q2, 2pq, p2 + q2 ), com p e q naturais restritos às condições (1), (2) e (3).
  • O fator 4 sempre vai estar no elemento 2pq.
É óbvio por (3), pois um dos números, p ou q, é par.
  • Se o fator 3 não ocorrer no elemento 2pq, então ele estará em p2q2.
De fato, dividindo p e q por 3, encontraremos resto 1 ou 2, ou seja, estes números são da forma 3k + 1 ou 3k + 2. Em qualquer caso, o quadrado é da forma 3k + 1. Portanto, a diferença p2q2 de dois números da forma 3k + 1 é divisível por 3.
  • Se o fator 5 não ocorrer no elemento 2pq, então ele estará em p2q2 ou em p2 + q2.
De fato, dividindo p e q por 5, encontraremos para resto um dos números: 1, 2, 3 ou 4. Isto é, p e q são de uma das formas: 5k + 1, 5k + 2, 5k + 3, ou 5k + 4. O quadrado de qualquer um desses números é da forma 5k + 1 ou 5k + 4. Assim, se p e q forem do mesmo tipo (5k + 1 ou 5k + 4), p2q2 será múltiplo de 5. Caso contrário, o fator 5 estará em p2+ q2.

Moral da história:

Numa terna pitagórica não há como escapar dos números 3, 4 e 5!

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