Aumento,
desconto e o “conto” do desconto
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
O novo preço
do livro
O custo de
reimpressão de um livro depende de dois fatores: papel e gráfica.
Suponhamos que o gasto com papel represente 60% daquele custo e as
despesas com gráfica os restantes 40%. Exemplificando: se a
reimpressão de um livro custar R$ 10 000,00 então R$ 6 000,00 serão
devidos ao papel e R$ 4 000,00 à gráfica. Imaginemos que, no prazo
de um ano, o preço do papel sofra um aumento de 25,9% e os custos
com gráfica 32,5%. O problema é saber de quanto deverá subir o
preço do livro.
Este é um
exemplo prático, simples e interessante, de aplicação do conceito
de média ponderada. Os pesos desta média são as porcentagens com
que cada uma das duas componentes, papel e gráfica, pesam no custo
de reimpressão do livro. Portanto, o aumento do preço do livro deve
ser calculado assim:
[60
× 25,9% + 40 × 32,5%]/100 = 28,54%.
Como
dar descontos
Um aluno que
trabalhava no setor de vendas de uma fábrica de calçados, viu-se
diante do seguinte problema: a empresa dava aos clientes um desconto
de 10% para compras à vista; dava ainda mais 10% de desconto para
compras acima de 2 000 e abaixo de 10 000 pares de sapatos ou 15%
para compras acima de 10 000 pares.
Sua dúvida era a
seguinte: se um cliente comprasse à vista, 12 000 pares, ele deveria
dar primeiro 10% de desconto (pela compra à vista) e logo depois 15%
(pela compra acima de 10 000 pares) ou poderia dar logo um desconto
total de 25%?
Esta foi a
maneira como ele encarou o problema e, apesar de ter a sensação de
que não dava na mesma, ele não se sentia seguro quanto a isso.
Analisemos
a situação. Seja C
o valor da compra. Recebendo um desconto de 10% seu cliente pagaria
0,90C
pela mercadoria. Sobre esse valor, sendo dado agora um desconto de
15%, o valor a ser pago passaria a ser 0,85 × 0,90C
= 0,765C.
Isto significa que o cliente pagaria 76,5% do valor de C,
o que equivale a um desconto único de 23,5%.
Portanto, para
seu cliente, era mais vantajoso um desconto de 25%!
Restava saber, na
hora da decisão, a quem beneficiar: a empresa ou o cliente?
Situações deste
tipo, envolvendo porcentagens, aparecem com frequência. É comum as
pessoas somarem porcentagens indevidamente. Em épocas de inflação
acelerada, por exemplo, a inflação de um trimestre não é a soma
das inflações de cada um dos três meses. Assim, por exemplo, se as
inflações de janeiro, fevereiro e março fossem, respectivamente,
de 12%, 11% e 14% a inflação acumulada do trimestre não seria de
12% + 11% + 14% = 37%.
O
cálculo correto deve ser feito assim: se p
é o preço de uma mercadoria em fim de dezembro, então, em fim de
janeiro ela custará: 1,12p.
Em fim de fevereiro: 1,11 × 1,12p
e em fim de março: 1,14 × 1,11 × 1,12p
≅ 1,42p.
Isto significa um
aumento aproximado de 42%.
O
conto do desconto
Quando a inflação
era muito alta, ao comprar pneus novos para seu carro, um professor
de Química precisou optar entre dois planos de pagamento:
- 50% de desconto sobre o preço da tabela, para pagamento à vista;
- 35% de desconto sobre o preço da tabela, para pagamento em 3 vezes.
O vendedor lhe
mostrou a vantagem do segundo plano. Pagando em 3 vezes você está
pagando 15% a mais. Em 3 meses, isto dá 5% ao mês, o que, para a
época, era de fato um juro baixíssimo.
De imediato, o
professor percebeu que este raciocínio estava errado. Na verdade, o
pagamento em 3 vezes, correspondia a um financiamento em 2 meses e
não três. Precisamos perceber que uma das parcelas é entrada.
Então o juro mensal seria 7,5% e não 5%.
Entretanto, este
não é ainda o raciocínio correto. Usando sua calculadora
financeira programável, ele concluiu que o juro mensal, embutido na
segunda proposta de pagamento, era de cerca de 33%!!
Vamos
raciocinar. Seja p
o preço da tabela do pneu. No primeiro plano de pagamento ele
pagaria 0,50p;
no segundo, pagaria 0,65p,
sendo 0,65p/3
de entrada, uma primeira prestação de 0,65p/3
e a segunda prestação de 0,65p/3.
Após
pagar a entrada ele ficava devendo para a loja 0,50p
– 0,65p/3
= 0,85p/3.
Este
é o valor efetivamente financiado: 0,85p/3.
Se
a taxa mensal de juros é j,
então após um mês sua dívida passa a ser 0,85p/3
+ 0,85p/3
× j
= (1 + j)
× 0,85p/3.
Aí
ele paga a primeira prestação e fica devendo (1 + j)
× 0,85p/3
– 0,65p/3.
Após
outro mês esta dívida passa a ser [(1 + j)
× 0,85p/3
– 0,65p/3]
× (1 + j).
Então
ele paga a segunda prestação e quita a dívida, ou seja, [(1 + j)
× 0,85p/3
– 0,65p/3]
× (1 + j)
– 0,65p/3
= 0.
Simplificando
obtemos: 85(1 + j)2
– 65(1 + j)
– 65 = 0, ou seja, 17(1 + j)2
– 17(1 + j)
– 17 = 0.
Resolvendo
esta equação do segundo grau, na incógnita 1 + j,
e considerando apenas a raiz positiva obtemos 1 + j
≅ 1,3368, donde j
≅ 0,3368 = 33,68%
Para fazer
justiça àquele comerciante, deve-se acrescentar ainda que o mesmo
não tinha consciência disto tudo. A defesa que fazia do segundo
plano de pagamento, era, até certo ponto, sincera. Achava até que,
neste segundo plano, estava perdendo dinheiro, em face de uma
inflação muito alta. Sem perceber, ao invés de perder, ganhava, e
muito, com ela. É claro que este comentário não se generaliza para
todos os especuladores.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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