Reprovar
ou não reprovar? (Uma breve reflexão)
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
O
tema reprovação
parece ser o de maior poder de mobilização no campo educacional.
Nas últimas eleições, quando algum candidato se dignava a falar de
educação, quase sempre surgia a promessa de extinguir ou de não
implantar a progressão automática. De nada adianta argumentar que
as inúmeras pesquisas feitas sobre o tema são unânimes em afirmar
que não existe diferença no desempenho de alunos sujeito ou não a
esse regime, e que, por seu lado, são identificados impactos
significativos na diminuição dos índices de abandono.
Apesar
disso, têm razão os críticos desse sistema quando dizem que ele
poderia fazer com que as competências não desenvolvidas fossem se
avolumando, com prejuízo para a aquisição de outras habilidades.
Na verdade, esse regime não impede a realização de avaliações, a
identificação de lacunas de aprendizagem nem a sua devida
recuperação. Ele apenas define que o aluno não deve repetir todo o
processo vivido em um ano escolar por conta dessas lacunas. É
interessante ressaltar que a progressão automática só foi
implantada no ensino fundamental, quando o edifício do conhecimento
ainda está em fase inicial.
A
questão primordial, entretanto, parece estar na análise do
custo-benefício da decisão de reprovar um aluno. Para que
representasse um real benefício, seria importante que a reprovação
ocorresse apenas quando as lacunas de aprendizagem comprometessem
realmente o prosseguimento dos estudos e a melhor forma de sanar
essas falhas fosse a retenção naquela série.
Quanto
aos custos, esses parecem ser maiores do que se possa imaginar à
primeira vista. Na tentativa de entender os altos índices de
abandono dos jovens do Ensino Médio, o Instituto Unibanco promoveu
uma série de estudos para identificar fatores ligados ao desempenho
dos alunos do Ensino Fundamental e ao fluxo escolar nesse nível,
correlacionados ao fenômeno.
No
que se refere ao desempenho, verificou-se que alunos com melhores
resultados possuem maior chance de ingressar e permanecer no Ensino
Médio. A probabilidade de um aluno com baixo desempenho não
completar nem o primeiro ano do Ensino Médio chega a ser o dobro da
de um de melhor nível de aprendizagem. Ou seja: se reprovar um aluno
melhorasse seu desempenho, o que não é ratificado pelos estudos
sobre o tema, a reprovação poderia contribuir para a permanência
dos jovens na escola.
Quando
o foco é a relação entre o fluxo no Ensino Fundamental e o acesso
e permanência no Médio, os dados são impressionantes. Os estudos
revelam que cada ano de atraso na entrada ao Ensino Médio aumenta em
5% o risco do abandono, e que ter mais de 18 anos diminui em 53% a
chance de concluir esse nível.
Se
as reprovações no Ensino Fundamental são cruciais na decisão de
abandonar a escola, no Médio elas são fatais. Chama a atenção a
magnitude do fenômeno, atingindo mesmo aqueles que passaram ilesos
pelo Ensino Fundamental. Os estudos revelam que de cada 100 alunos
que entram no Ensino Médio na idade correta, apenas 45 concluem os
estudos no tempo previsto. Por seu lado, estima-se que cada
reprovação no Ensino Médio aumenta em 77% as chances de abandono.
As
consequências, todos sabemos. O aluno que acumula reprovações, que
chega mais velho ao Ensino Médio e que tende a desistir, joga fora
suas oportunidades de inclusão no moderno mercado de trabalho,
engrossando as fileiras do desemprego, do subemprego ou do emprego
marginal, tornando-se um provável cliente das políticas
assistenciais ou de segurança pública, tão onerosas para o país.
Na
verdade, a questão fundamental não é a de adotar ou não a
progressão automática, mas a de decidir quando e por que a
reprovação faz sentido, tendo em vista suas consequências para o
futuro dos jovens e do país.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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