segunda-feira, 29 de julho de 2013

Desenvolver habilidades e talento – esse é o desafio


Desenvolver habilidades e talento – esse é o desafio
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Quais devem ser os interesses de um estudante? Gostar de cantar? Ser fascinado por Literatura? Achar divertido passar horas montando um computador? Certamente, pais e professores não se incomodam com atividades desse tipo, mas elas estão longe de ser valorizadas como o bom desempenho nas provas de fim de ano ou no vestibular. Isto, no entanto, é um erro grave.
A revista Science apresentou um editorial com críticas à desvalorização dos interesses e habilidades individuais dos alunos por parte das escolas. O sistema educacional atual, baseado na concorrência e no desempenho em testes, pode prejudicar, e muito, a formação de grandes pensadores. Essa forma de ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes.
A maneira como a educação é organizada na atualidade faz com que potenciais vencedores de prêmio Nobel sejam perdidos antes mesmo do fim da educação básica, já que o modelo de ensino “massacra” qualquer outro interesse que não seja o cobrado nos exames de admissão das universidades. Os pais e estudantes estressados não devem pensar que ir bem nos testes ou entrar em universidades de ponta garantam que a pessoa terá sucesso. É importante desenvolver habilidades e talentos. Isso sim tem um papel fundamental no futuro de alguém.
A pressão excessiva por desempenho sobre crianças e adolescentes, em todos os níveis de ensino, extermina o prazer pela busca do conhecimento. As crianças, de alguma forma, acostumaram-se a lidar com essa pressão. Elas entram na pré-escola extremamente entusiasmadas pelo conhecimento e, por volta do terceiro ano, já estudam apenas para tirar boas notas, não mais porque é divertido.
Apesar de esta avaliação ser baseada em observações da sociedade norte-americana, no Brasil o problema não é diferente. Uma pesquisa feita pela Universidade São Marcos, de São Paulo, mostrou que 40% das crianças em idade escolar estão estressadas. Outro levantamento semelhante, feito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também identificou o problema. Pelo menos uma em cada três crianças pesquisadas apresentava sintomas de estresse, em boa parte em função do excesso de pressão e atividades escolares.
De fato, existe o excesso de competitividade e pressão nos estudantes em detrimento de uma formação mais humanística, que leve em conta os interesses e as habilidades dos alunos. Esse movimento é mais intenso nas escolas privadas, que buscam figurar na lista das que mais aprovam nos vestibulares. No entanto, a educação pública brasileira, historicamente, tem um papel muito mais focado na cidadania e na formação global.
O problema, no caso brasileiro, é que há poucas vagas nas melhores universidades. Quem elabora as seleções é o Ministério da Educação. Se a formação é muito direcionada e competitiva, é porque o sistema funciona assim. Se um aluno quiser ser aprovado no vestibular, ele terá de se dedicar e focar nos estudos.
Apesar de haver discordância sobre a responsabilidade pela competitividade no ensino, há unanimidade quando o assunto é a solução para a mudança. Os especialistas acreditam que ela está no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O exame utiliza um modelo de avaliação mais focado na capacidade de análise e julgamento. À medida que for sendo ampliado, ele tende a possibilitar a flexibilização do ensino, em todos os seus níveis. Por abolir o “decoreba”, esse modelo de avaliação servirá de base para outros testes e para a forma como as escolas se organizarão.
A questão também é polêmica entre os pais. Para alguns, embora o ideal fosse uma educação mais humanística, as exigências do mundo contemporâneo são outras. A realidade da competição é inegável, por isso é importante a questão ser trabalhada dentro da escola. Mesmo a competição transmite lições importantes. Ter que se dedicar, estudar e dar o melhor de si são questões que as crianças precisam aprender. Ninguém vai bem, em nenhuma área, sem cultivar esses hábitos, e o ensino que foca nas avaliações transmite isso.
Outros pais, no entanto, não compartilham essa ideia. Estes acreditam que a educação deve ser, acima de tudo, focada em valores. Tentam transmitir a mensagem de que é preciso ter responsabilidade, mas estudar muito mais por prazer do que pelas notas.
Para os especialistas, é preciso ressignificar a educação. É preciso redescobrir o significado de ir à escola, de estudar. Mercado de trabalho, preconceitos e status social são questões que devem deixar de nortear as políticas educacionais. A sociedade valoriza muito mais o trabalho cooperativo, o trabalhar em grupo, mas a escola forma alunos muito mais focados na competição e no trabalho individual.
A dicotomia entre o que a escola estimula e o que é exigido pela sociedade acaba eliminando a possibilidade de as crianças traçarem seus próprios caminhos. Quem disse que é preciso ser o melhor aluno, frequentar a universidade mais renomada ou fazer mil atividades extraclasse para ser uma pessoa de sucesso? A maioria dos grandes pensadores que deixaram um legado para a humanidade seguiram caminhos muito diferentes do convencionalmente estabelecido. Tiveram seu tempo e fizeram o que fizeram unicamente porque gostavam daquilo e não por uma imposição social.

[Contato: macolins@gmail.com]

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