Desenvolver
habilidades e talento – esse é o desafio
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
Quais devem ser os
interesses de um estudante? Gostar de cantar? Ser fascinado por
Literatura? Achar divertido passar horas montando um computador?
Certamente, pais e professores não se incomodam com atividades desse
tipo, mas elas estão longe de ser valorizadas como o bom desempenho
nas provas de fim de ano ou no vestibular. Isto, no entanto, é um
erro grave.
A revista Science
apresentou um editorial com críticas à desvalorização dos
interesses e habilidades individuais dos alunos por parte das
escolas. O sistema educacional atual, baseado na concorrência e no
desempenho em testes, pode prejudicar, e muito, a formação de
grandes pensadores. Essa forma de ensino promove um verdadeiro
extermínio de grandes mentes.
A maneira como a
educação é organizada na atualidade faz com que potenciais
vencedores de prêmio Nobel sejam perdidos antes mesmo do fim da
educação básica, já que o modelo de ensino “massacra”
qualquer outro interesse que não seja o cobrado nos exames de
admissão das universidades. Os pais e estudantes estressados não
devem pensar que ir bem nos testes ou entrar em universidades de
ponta garantam que a pessoa terá sucesso. É importante desenvolver
habilidades e talentos. Isso sim tem um papel fundamental no futuro
de alguém.
A pressão
excessiva por desempenho sobre crianças e adolescentes, em todos os
níveis de ensino, extermina o prazer pela busca do conhecimento. As
crianças, de alguma forma, acostumaram-se a lidar com essa pressão.
Elas entram na pré-escola extremamente entusiasmadas pelo
conhecimento e, por volta do terceiro ano, já estudam apenas para
tirar boas notas, não mais porque é divertido.
Apesar de esta
avaliação ser baseada em observações da sociedade
norte-americana, no Brasil o problema não é diferente. Uma pesquisa
feita pela Universidade São Marcos, de São Paulo, mostrou que 40%
das crianças em idade escolar estão estressadas. Outro levantamento
semelhante, feito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
também identificou o problema. Pelo menos uma em cada três crianças
pesquisadas apresentava sintomas de estresse, em boa parte em função
do excesso de pressão e atividades escolares.
De fato, existe o
excesso de competitividade e pressão nos estudantes em detrimento de
uma formação mais humanística, que leve em conta os interesses e
as habilidades dos alunos. Esse movimento é mais intenso nas escolas
privadas, que buscam figurar na lista das que mais aprovam nos
vestibulares. No entanto, a educação pública brasileira,
historicamente, tem um papel muito mais focado na cidadania e na
formação global.
O problema, no
caso brasileiro, é que há poucas vagas nas melhores universidades.
Quem elabora as seleções é o Ministério da Educação. Se a
formação é muito direcionada e competitiva, é porque o sistema
funciona assim. Se um aluno quiser ser aprovado no vestibular, ele
terá de se dedicar e focar nos estudos.
Apesar de haver
discordância sobre a responsabilidade pela competitividade no
ensino, há unanimidade quando o assunto é a solução para a
mudança. Os especialistas acreditam que ela está no Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM). O exame utiliza um modelo de avaliação
mais focado na capacidade de análise e julgamento. À medida que for
sendo ampliado, ele tende a possibilitar a flexibilização do
ensino, em todos os seus níveis. Por abolir o “decoreba”, esse
modelo de avaliação servirá de base para outros testes e para a
forma como as escolas se organizarão.
A questão também
é polêmica entre os pais. Para alguns, embora o ideal fosse uma
educação mais humanística, as exigências do mundo contemporâneo
são outras. A realidade da competição é inegável, por isso é
importante a questão ser trabalhada dentro da escola. Mesmo a
competição transmite lições importantes. Ter que se dedicar,
estudar e dar o melhor de si são questões que as crianças precisam
aprender. Ninguém vai bem, em nenhuma área, sem cultivar esses
hábitos, e o ensino que foca nas avaliações transmite isso.
Outros pais, no
entanto, não compartilham essa ideia. Estes acreditam que a educação
deve ser, acima de tudo, focada em valores. Tentam transmitir a
mensagem de que é preciso ter responsabilidade, mas estudar muito
mais por prazer do que pelas notas.
Para os
especialistas, é preciso ressignificar a educação. É preciso
redescobrir o significado de ir à escola, de estudar. Mercado de
trabalho, preconceitos e status social são questões que devem
deixar de nortear as políticas educacionais. A sociedade valoriza
muito mais o trabalho cooperativo, o trabalhar em grupo, mas a escola
forma alunos muito mais focados na competição e no trabalho
individual.
A dicotomia entre
o que a escola estimula e o que é exigido pela sociedade acaba
eliminando a possibilidade de as crianças traçarem seus próprios
caminhos. Quem disse que é preciso ser o melhor aluno, frequentar a
universidade mais renomada ou fazer mil atividades extraclasse para
ser uma pessoa de sucesso? A maioria dos grandes pensadores que
deixaram um legado para a humanidade seguiram caminhos muito
diferentes do convencionalmente estabelecido. Tiveram seu tempo e
fizeram o que fizeram unicamente porque gostavam daquilo e não por
uma imposição social.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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