Os
10 mandamentos da redação nota 10
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
- Seja adequado
A
língua se parece a imenso armário. Nele há todos os tipos de
roupas. O desafio: escolher a mais adequada para o momento. A piscina
pede biquíni. O baile de gala, longo e black-tie. O cineminha, traje
esporte. Trocar as vestes tem nome. Inadequação.
O mesmo princípio
orienta o texto. Horóscopo exige palavras abstratas e genéricas.
Dirá que o domingo trará surpresas. Jamais que a pessoa ganhará na
loteria ou comprará um carro. Se e-mails, redações de concurso e
provas de vestibular usarem a língua do horóscopo, terão destino
certo – a reprovação. Não se trata de certo ou errado, mas de
adequado ou inadequado.
- Seja claro
Montaigne,
há 400 anos, disse que o estilo tem três virtudes. A primeira:
clareza. A segunda: clareza. A terceira: clareza. Graças a ela o
receptor entende a mensagem sem ambiguidades. Como ensina Íñigo
Dominguez, “uma frase tem de estar construída de tal forma que não
só se entenda bem, mas que não se possa entender de outra forma”.
- Seja preciso
A
precisão tem íntima relação com as palavras. Buscar o vocábulo
certo para o contexto é trabalho árduo. Exige atenção, paciência
e pesquisa. Consulte dicionários e textos especializados.
- Seja natural
Imagine
que o leitor, o ouvinte ou o telespectador esteja à sua frente
conversando com você. Sinta-se à vontade. Faça pausas e perguntas
diretas. Dê ao texto um toque humano. Você se dirige a pessoas de
carne e osso.
- Seja fácil
No
mundo de corre-corre, queremos textos curtos, precisos e prazerosos.
Rapidez de leitura fisga. Pra chegar lá, opte por palavras
familiares. Informe – rápido e bem. Respeite a memória do leitor.
Ele só consegue reter determinado número de palavras. Depois, os
olhos pedem uma pausa. Escolha bom título. Prefira a ordem direta.
Evite intercalações. Vacine-se contra redundância, pedantismo e
verborragia. Escreva frases curtas. “Uma frase longa”, escreveu
Vinícius, “não é nada mais que duas curtas.”
- Seja leve
Não
canse quem o prestigia. Nem o obrigue a ter o dicionário ao lado.
Muito menos a voltar atrás para recuperar o que foi dito.
Respeite-lhe
o
tempo, os ouvidos e o bom gosto. Em suma: busque a frase elegante,
capaz de veicular com clareza e simplicidade a mensagem que você
quer transmitir.
- Seja respeitoso
Boa
parte das pessoas se indigna com palavrões, obscenidades e
expressões chulas. Só os acolha em situações excepcionais. É o
caso da manifestação de alguém quando a palavra tiver indiscutível
valor informativo ou reflita a personalidade de quem a profere.
- Seja surpreendente
Surpresa
chama a atenção e desperta a curiosidade. É o gosto pelo
inusitado. O chavão vai de encontro à novidade. Palavra ou
expressão, tantas vezes repetida, perde o viço. Pontapé
inicial,
abrir
com chave de ouro,
chorou
um rio de lágrimas,
ver
com os próprios olhos,
cair
como uma bomba
& Cia. tiveram frescor algum dia. Hoje soam como coisa velha.
Transmitem a impressão de profissional preguiçoso, desatento ou
malformado. Em bom português: incapaz de surpreender.
- Seja dinâmico
Água
parada apodrece. Exala mau cheiro que espanta os próximos e deixa os
distantes de sobreaviso. Só o movimento a mantém viva. O mesmo
ocorre com a língua. Frases mornas e tediosas afugentam o leitor.
Ele larga a leitura e interrompe a navegação na internet. Seja
dinâmico. Vá logo ao ponto. Abuse de verbos e substantivos
concretos. Prefira a voz ativa. Fuja de adjetivos e advérbios. Evite
palavras longas e pomposas. Opine. Não ache.
- Seja gentil
As
palavras carregam carga ideológica. Algumas mais, outras menos. A
sociedade está atenta aos vocábulos que reforçam preconceito. Fuja
deles. Cor, idade, peso, altura, origem, condição social e
preferências sexuais são as principais vítimas.
Gentileza não se
restringe a palavras. Atinge os períodos, passa pelos parágrafos,
chega ao texto completo. Ao se expressar, comece pelo mais
importante. E comece bem, com uma frase atraente, que desperte o
interesse e estimule a vontade de avançar até o fim. Aí, ofereça
o prêmio cuidadosamente escolhido: um fecho marcante, tão forte
quanto a introdução. Lembre-se: a última impressão é a que fica.
Sempre, principalmente no texto.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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