segunda-feira, 29 de julho de 2013

Blitz da Educação: o poder do bom professor e de uma boa gestão


Blitz da Educação: o poder do bom professor e de uma boa gestão
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Em um livro publicado por Gustavo Ioschpe em 2004, ele idealizou um índice cuja aplicação permite dar notas de zero a 10 às escolas públicas com base em informações sobre o aprendizado dos alunos e suas taxas de aprovação medidas pelo Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
No mês de maio (2011), ele acompanhou uma equipe do JN no ar – Blitz da Educação. Em cada cidade, visitada por sorteio, foram visitadas a pior e a melhor escola pública classificadas segundo aquele índice. Foram sorteadas as cidades de Novo Hamburgo (RS), Vitória (ES), Caucaia (CE), Goiânia (GO) e Belém (PA). Não se pode dizer que essas dez escolas visitadas são uma amostra representativa da educação brasileira, visto que a seleção não foi totalmente aleatória, mas se aproximam bastante do quadro geral do país. As visitas não trouxeram nenhuma grande surpresa para quem é familiarizado com a educação brasileira, mas adicionam uma concretude que às vezes falta nas pesquisas outrora divulgadas.
A seguir, um resumo de alguns aprendizados e experiências resultantes das visitas acima citadas:

A importância da Direção/Gestão

Quando falamos em educação, focamos na figura do professor, que é o ator principal do processo e é quem tem contato direto com os alunos. Mas, assim como em qualquer organização humana, por trás dos talentos individuais é preciso haver uma gestão que oriente (bem) os esforços e dê um sentido ao todo. Nas escolas, é o diretor (gestor). É impressionante como é possível notar grandes diferenças entre as escolas através de pequenas diferenças de discurso dos diretores. Nas escolas ruins, os diretores geralmente não sabiam quantos alunos estudavam lá. Diziam coisas como “uns 700”, “na faixa de 350”. Nas escolas boas, o diretor sabia o número exato e respondia sem titubear. Nas escolas ruins, há uma certa frouxidão sobre aquilo que deve ser ensinado e como. Os diretores, invocando a “democratização”, ou “o processo coletivo” da “construção do saber”, deixam os professores à vontade para que definam o que é melhor para seus alunos. Nas escolas boas, há disciplina — sem repressão, apenas ordenamento. Nas ruins, é uma balbúrdia (= grande desordem, confusão, gritaria, algazarra).

Envolvimento dos pais

As escolas boas se esforçam para atrair os pais para dentro do ambiente escolar. Na escola de Novo Hamburgo (E.M. Jacob Kroeff Neto), as reuniões com pais eram marcadas para as 7 da noite. Muitos pais faltavam. A diretora ligou para os faltantes para descobrir o porquê da ausência. Ouviu que as reuniões eram feitas muito cedo, não dava tempo chegar do trabalho. As reuniões então passaram a acontecer uma hora mais tarde. O quórum aumentou. Na escola boa de Goiânia (E.M. Francisco Bibiano de Carvalho), a diretora espera os pais todos os dias, no portão da escola, tanto na entrada quanto na saída dos alunos, e conversa com quem ali estiver. Desde o 1º ano, a família recebe um boletim com notas e comentários extensos ao fim de cada bimestre. Na escola ruim de Belém, ao contrário, há um total descaso para com os pais. As reuniões são marcadas durante a manhã ou à tarde, horários impossíveis para qualquer trabalhador. A direção e os professores comunicam eventuais problemas dos filhos por bilhetes — mesmo sabendo que a maioria dos pais é de semianalfabetos. Cumprem os rituais. Apenas isso.

Cultura do sucesso versus tolerância ao fracasso

Já dizia Ambrose Bierce que o dicionário é o único lugar em que sucesso vem antes de trabalho. As boas escolas obtêm desempenhos mais altos porque trabalham duro para isso. E o primeiro passo dessa caminhada é ter a expectativa do sucesso, com metas ambiciosas. Os diretores e professores das escolas que funcionam desejam que seus alunos aprendam. Quando o aluno não aprende, eles chamam os pais, criam aulas de reforço, insistem. Chamam para si a responsabilidade. Já as escolas fracassadas aceitam o insucesso como normal — quando não põem a responsabilidade sobre um ente externo, fora do controle da escola. Pode ser “o sistema”, os políticos, os pais, os alunos ou a sociedade. Nunca é com eles. A terceirização da responsabilidade produz indolência. Na escola com Ideb baixo de Goiânia, os alunos estão praticamente analfabetos — no 4º ano! Perguntados se faziam algum trabalho de reforço, a diretora respondeu, orgulhosa: “Sim, três horas diárias!”. A aula era ministrada em área semicoberta por um tatame e compartilhada pelos alunos com alguns instrumentos musicais. Não havia lousa nem material didático. Metade do tempo de aula era usada para lições de tae kwon do. Dedicar metade da aula para a atividade esportiva, com alunos analfabetos no 4º ano, é uma confissão de abandono.

Uso do material didático

Nas boas escolas, professores e alunos usam o material didático como apoio, o que dá uma organização ao processo de ensino-aprendizagem. Na escola boa de Caucaia (E.M. Celina Sá Morais), usam-se um material de um programa do governo do estado para alfabetizar alunos na idade certa. Professores e alunos são conduzidos por um caminho que dá certo, sem a necessidade de reinventar a roda a cada dia. Nas más escolas, ou o material didático não é utilizado ou o professor o utiliza para substituir a aula. Na mesma Caucaia, na escola ruim, a atividade dos alunos consistia em ler o livro didático e responder às perguntas do próprio livro. A professora ficava ali olhando... Na escola ruim de Novo Hamburgo, o professor se limitava a entregar jornais aos alunos. Uma aluna ficou olhando as propagandas de clínicas de emagrecimento...

Monitoramento e Avaliação

Nas boas escolas, há avaliação constante e formal.

O poder do bom professor

É impressionante a diferença que um professor faz, mesmo nas condições mais precárias. Em Vitória, uma professora chamada Alecsandra escrevia na lousa em ótima caligrafia. Falava baixo e atenciosamente com os alunos. Engajava-os fazendo perguntas a todos. Com três meses de aula, muitos já estavam demonstrando sólidos sinais de alfabetização. Qualquer professor que culpe “o sistema” deveria passar por uma aula assim para voltar a acreditar em si mesmo.
_________________________________
Nota: Todos os professores (educadores) sensatos entendem (e defendem) que as virtudes integrantes de uma educação bem orientada são aprendidas no lar e na escola. Daí a necessidade (urgente) de atrair os pais para o ambiente escolar. No entanto, esse envolvimento (família-escola) deve ser feito de forma racional e contínua, a fim de que a comunidade escolar progrida de maneira eficaz. Trata-se, evidentemente, de uma parceria. E para que tal parceria tenha êxito é importante (e por que não dizer, fundamental e indispensável) disciplinar e ordenar aquilo que deve ser ensinado e como. Não se trata de reprimir a atuação do professor, mas sim, conforme já dito, disciplinar o ensino de acordo com o currículo escolar e as necessidades dos alunos, a fim de que os mesmos venham a superar obstáculos, ainda que estes se remetam a dificuldades anteriores (ou que já deveriam ter sido superadas).”
(Marcos Antônio Colins)
[Contato: macolins@gmail.com]

Nenhum comentário:

Postar um comentário