segunda-feira, 29 de julho de 2013

Educação: valorizar e motivar – esse é o desafio


Educação: valorizar e motivar – esse é o desafio
(Artigo organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão)

Há 80 anos, o Manifesto dos pioneiros da educação nova, que lançou as bases para uma escola pública de qualidade no Brasil, foi publicado. O documento, que até hoje serve de referência para a busca por melhorias no ensino, é simples ao mencionar o professor: “De todas as funções públicas, a mais importante.” De 1932 para cá, entretanto, a carreira vem se tornando cada vez menos atrativa. Salários pouco expressivos, formação inadequada para encarar a sala de aula e falta de condições de trabalho constituem o problema que os governos, nas três instâncias, precisam enfrentar.
Qualquer iniciativa que desconsidere a valorização do professor será incapaz de mudar o atual quadro da educação. O primeiro objetivo é garantir uma boa formação.
A formação defasada do professor brasileiro pode ser atestada por números. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC), revelam que um em cada quatro docentes não tem a formação de nível superior. Apesar das iniciativas do governo federal, que oferece cursos de graduação e de aperfeiçoamento de professores, o número de matriculados ainda é baixo: cerca de 175 mil — aproximadamente 30% da quantidade de docentes sem o terceiro grau. Além disso, o índice de desistência é alto. Por exemplo, em Pernambuco, a média de desistência é de 32% nos cursos da Plataforma Paulo Freire, para professores que não têm o nível superior. Entre as principais causas, está o fato de as aulas presenciais, quinzenalmente, serem em pólos distantes de algumas cidades. Muitas vezes, o professor não tem nem dinheiro para o transporte. Outro fator é o tempo. Como os professores não são liberados de suas escolas, alguns não conseguem conciliar.

Exercício de fé

Apesar das dificuldades, há professores brasileiros com fé na profissão. Uma pesquisa realizada em 2010 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que 50% afirmaram que fariam a mesma escolha novamente se pudessem voltar no tempo.

A escola que ficou somente no papel

No país que escalou posições em termos econômicos, tirou milhares da pobreza extrema e conseguiu solidificar suas instituições democráticas, a constatação feita 80 anos atrás, no Manifesto dos pioneiros da educação nova, continua atual. “Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação”. Oito décadas depois da carta aberta assinada por notáveis como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Júlio de Mesquita Filho e Cecília Meirelles, as propostas lançadas, até hoje consideradas fundamentais para uma reforma educacional de verdade, tiveram avanços tímidos. Embora o acesso à educação tenha melhorado, com 98% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a qualidade do ensino não evoluiu no mesmo ritmo. E temas defendidos pelos pensadores da Educação Nova — como escola integral, valorização do professor e instalações de qualidade para a aprendizagem — são reavivados de tempos em tempos pelos governos e pela sociedade.
O manifesto trouxe uma ideia de planejamento absolutamente inédita naquele momento da história brasileira. Mas esse grande objetivo foi derrotado. Hoje, lamentavelmente, vivemos de improviso no campo da educação. O movimento encabeçado pelos pensadores, porém, rendeu frutos nos campos político, ideológico e jurídico. É de 1934, portanto na efervescência da mobilização, o primeiro dispositivo constitucional determinando que a educação é direito de todos, devendo ser garantida pela família e pelo poder público. A década de 1950 mostrou-se fértil em termos de experiências inovadoras, como o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, inaugurado por Anísio Teixeira, em Salvador, que unia formação acadêmica e lúdica. No período, surge também o método de alfabetização de Paulo Freire, transformado em programa nacional, em 1962. O golpe militar bane muitos dos modelos considerados “subversivos” e faz uma expansão do ensino com pouca qualidade. Com a reabertura política, o tema volta e permanece no topo da “hierarquia dos problemas nacionais”, como disseram há 80 anos.

[Contato: macolins@gmail.com]

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