Educação:
valorizar e motivar – esse é o desafio
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
Há 80 anos, o
Manifesto
dos pioneiros da educação nova,
que lançou as bases para uma escola pública de qualidade no Brasil,
foi publicado. O documento, que até hoje serve de referência para a
busca por melhorias no ensino, é simples ao mencionar o professor:
“De
todas as funções públicas, a mais importante.”
De 1932 para cá, entretanto, a carreira vem se tornando cada vez
menos atrativa. Salários pouco expressivos, formação inadequada
para encarar a sala de aula e falta de condições de trabalho
constituem o problema que os governos, nas três instâncias,
precisam enfrentar.
Qualquer
iniciativa que desconsidere a valorização do professor será
incapaz de mudar o atual quadro da educação. O primeiro objetivo é
garantir uma boa formação.
A formação
defasada do professor brasileiro pode ser atestada por números.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC),
revelam que um em cada quatro docentes não tem a formação de nível
superior. Apesar das iniciativas do governo federal, que oferece
cursos de graduação e de aperfeiçoamento de professores, o número
de matriculados ainda é baixo: cerca de 175 mil — aproximadamente
30% da quantidade de docentes sem o terceiro grau. Além disso, o
índice de desistência é alto. Por exemplo, em Pernambuco, a média
de desistência é de 32% nos cursos da Plataforma Paulo Freire, para
professores que não têm o nível superior. Entre as principais
causas, está o fato de as aulas presenciais, quinzenalmente, serem
em pólos distantes de algumas cidades. Muitas vezes, o professor não
tem nem dinheiro para o transporte. Outro fator é o tempo. Como os
professores não são liberados de suas escolas, alguns não
conseguem conciliar.
Exercício
de fé
Apesar das
dificuldades, há professores brasileiros com fé na profissão. Uma
pesquisa realizada em 2010 pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) revelou que 50% afirmaram que fariam a mesma escolha novamente
se pudessem voltar no tempo.
A
escola que ficou somente no papel
No país que
escalou posições em termos econômicos, tirou milhares da pobreza
extrema e conseguiu solidificar suas instituições democráticas, a
constatação feita 80 anos atrás, no Manifesto
dos pioneiros da educação nova, continua
atual. “Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em
importância e gravidade ao da educação”. Oito décadas depois da
carta aberta assinada por notáveis como Anísio Teixeira, Fernando
de Azevedo, Júlio de Mesquita Filho e Cecília Meirelles, as
propostas lançadas, até hoje consideradas fundamentais para uma
reforma educacional de verdade, tiveram avanços tímidos. Embora o
acesso à educação tenha melhorado, com 98% das crianças de 7 a 14
anos matriculadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), a qualidade do ensino não evoluiu no mesmo
ritmo. E temas defendidos pelos pensadores da Educação Nova —
como escola integral, valorização do professor e instalações de
qualidade para a aprendizagem — são reavivados de tempos em tempos
pelos governos e pela sociedade.
O manifesto
trouxe uma ideia de planejamento absolutamente inédita naquele
momento da história brasileira. Mas esse grande objetivo foi
derrotado. Hoje, lamentavelmente, vivemos de improviso no campo da
educação. O movimento encabeçado pelos pensadores, porém, rendeu
frutos nos campos político, ideológico e jurídico. É de 1934,
portanto na efervescência da mobilização, o primeiro dispositivo
constitucional determinando que a educação é direito de todos,
devendo ser garantida pela família e pelo poder público. A década
de 1950 mostrou-se fértil em termos de experiências inovadoras,
como o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, inaugurado por Anísio
Teixeira, em Salvador, que unia formação acadêmica e lúdica. No
período, surge também o método de alfabetização de Paulo Freire,
transformado em programa nacional, em 1962. O golpe militar bane
muitos dos modelos considerados “subversivos” e faz uma expansão
do ensino com pouca qualidade. Com a reabertura política, o tema
volta e permanece no topo da “hierarquia dos problemas nacionais”,
como disseram há 80 anos.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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