O
Insucesso em Matemática
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
Este tema tão
debatido, mas sempre atual, deu origem a este pequeno texto, depois
da leitura de “Uma
entrevista virtual sobre o ensino da Matemática” com
o matemático Elon Lages Lima, de forma que todos pensemos mais um
pouco sobre este assunto.
É vulgar
ouvir-se dizer que os alunos estão cada vez piores, isto é, não
têm hábitos de trabalho, nem empenho e estão menos preparados do
que antigamente. Estas palavras não se referem apenas à Matemática!
Professores de diferentes áreas dizem o mesmo! A cada ano que passa,
todos nós lamentamos essa situação! Todo o ensino vai mal! O que
fazer? Deixamos correr os acontecimentos, ou tentamos mudar alguma
coisa?
É verdade que
estamos inseridos numa sociedade e todos nós, alunos e professores,
somos influenciados pelo que se passa à nossa volta. Apesar da
grande evolução após o 25 de abril de 1974, continuamos com uma
grande percentagem de analfabetos. O nosso povo não tem a noção
exata do valor da educação e alguns dos nossos representantes
políticos padecem do mesmo mal. A Matemática é difícil, dizem
alguns, mas por quê? Por se exigir empenho, atenção e ordem nos
trabalhos?
“A Matemática
trata de noções e verdades de natureza abstrata. Esta é uma das
razões da sua força e importância. A afirmação de que 2 × 5 =
10, tanto se aplica aos dedos das duas mãos como aos jogadores que
disputam um jogo de basquetebol. A generalidade com que valem as
proposições matemáticas exige precisão, proíbe ambiguidades e,
por isso, requer maior concentração e empenho por parte dos
estudantes. O exercício dessas virtudes durante os anos de escola
ajuda a formar hábitos que serão úteis no futuro. A perseverança,
a dedicação e a ordem no trabalho são qualidades indispensáveis
para o estudo da Matemática”.
(Elon
Lages Lima)
O conhecimento
matemático é, por natureza, encadeado e cumulativo. Este aspecto de
dependência acumulada dos assuntos matemáticos leva a uma sequência
necessária, que torna difícil “apanhar o comboio em andamento”
e, muitas vezes, provoca o medo que as pessoas têm da Matemática.
Muitas pessoas, e até políticos, escondem o seu medo da Matemática,
dizendo que são péssimas na matéria, que sempre a detestaram, que
até os seus pais não gostavam… Enfim, dizem isso e, até, com
certo “orgulho”. Porém, muitas dessas pessoas também escrevem e
falam mal o português, mas não admitem nem se vangloriam disso.
O grande problema
é que, para se aprender um assunto matemático, é necessário estar
preparado para ele, é preciso estar disposto a enfrentar as
dificuldades impostas pelas deficiências anteriores e que exigem um
esforço redobrado. A aprendizagem é um processo gradual de
compreensão e aperfeiçoamento.
Cometer erros
durante a aprendizagem é algo inerente ao próprio processo de
aprendizagem. Deve-se estar preparado para querer aprender, mesmo
errando.
A Matemática não
trata apenas de “aplicar” alguns conhecimentos ou procedimentos
adquiridos ou treinados anteriormente, mas também ajuda a explorar,
pensar, e descobrir, ainda que isso leve tempo.
"A
Matemática não é apenas outra linguagem: é uma linguagem mais o
raciocínio; é uma linguagem mais a lógica; é um instrumento para
raciocinar”. (Richard
P. Feynman)
É imperioso
incutir nos estudantes a ideia de que nada se faz sem vontade
própria. Vontade dos alunos para aprenderem e vontade dos
professores para ensinarem. Os alunos devem sentir que os professores
“vibram” com a matéria que ensinam, que o seu desejo de ensinar
é autêntico e que estão interessados em ajudar a ultrapassar as
dificuldades que eles apresentam.
“O professor
de Matemática tem uma grande oportunidade em mãos. Se preenche seu
tempo apenas ensinando algoritmos, perde a oportunidade, pois mata o
interesse dos alunos e bloqueia seu desenvolvimento intelectual. Se,
por outro lado, lhes provoca a curiosidade através de problemas
proporcionais ao seu conhecimento e os acompanha com questões
estimulantes, estará lhes oferecendo o desejo e os meios para o
desenvolvimento de um pensamento independente."
(George Pólya)
[Contato:
macolins@gmail.com]
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