Probabilidades
no Ensino Fundamental
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
O ensino de
Probabilidades deve fazer parte do currículo do Ensino Fundamental
tendo em vista que um dos mais importantes objetivos do ensino da
Matemática é levar o aluno a utilizá-la em aplicações da vida
cotidiana, interpretando assim o mundo à sua volta.
Grandes nomes no
mundo da pesquisa como Piaget e Fichbein e teses de doutorado como as
de Maria do Carmo Vila da UFMG e José Luis Damasceno da UnB
demonstram que fases etárias bem jovens já começam a desenvolver
capacidades cognitivas que levam à compreensão dos conceitos não
só de probabilidades como outros, como o de estatística, também
considerados pelos tradicionais como inacessíveis se levados a
conhecimento do aluno antes de uma adolescência já definida.
Essa ideia se
afirma, principalmente, quando observamos noções de probabilidades
integrando currículos de séries iniciais em países como, por
exemplo, a Hungria.
Conceitos
probabilísticos como jogos e loterias, pesquisas eleitorais,
sorteios, características hereditárias, condições meteorológicas,
estudos populacionais e outros relacionados às ciências naturais e
à vida social estão, a todo dia e toda hora, fazendo parte dos
jornais, outdoors, rádio e televisão. Desta forma, o jovem, vivendo
na sociedade atual, necessita do desenvolvimento cognitivo, mesmo que
um tanto prematuro, e da aprendizagem de ferramentas teóricas que
lhe propiciem interpretar e agir no cotidiano de sua vida.
Situações-problema
simples e curiosas os colocam a pensar sobre usos informais da
probabilidade. Frases e palavras relacionadas a eventos imprevisíveis
podem ser exploradas, levando o aluno a se aproximar do conceito de
probabilidade, como por exemplo levando-o a pesquisar em que contexto
podem ser empregadas palavras como: ocasional, acidental, aleatório,
azar, casual, eventual, fortuito, previsível ou imprevisível,
provável ou improvável, certo ou incerto, esperado ou inesperado,
possível ou impossível, presumível, previsível, sorte, viável
etc.
Portanto,
introduzir noções como as de Probabilidades na Escola Fundamental é
o mínimo que se pode fazer para não privar o jovem do direito à
vida na sociedade atual.
Um exemplo
Com os objetivos
de, entre outros, identificar resultados possíveis para determinada
situação e representá-los; resolver problemas de contagem,
utilizando recursos como tabelas e árvores de possibilidades, e
vivenciar jogos de resultados aleatórios (mas não equiprováveis),
podem-se apresentar no Ensino Fundamental jogos diversos que
colocarão o aluno, de forma agradável e descontraída, diante do
mundo das probabilidades. Assim, jogando e se divertindo, ele estará
aprendendo a interpretar o mundo à sua volta.
Jogo: Soma da
Sorte
Na classe,
formam-se 11 times. Um terá o número 2, outro o 3 e assim por
diante até 12.
Cada time, na sua
vez, joga dois dados e soma os pontos. O time cujo número é igual à
soma faz um gol.
Alguém deve
anotar no quadro o número de gols de cada time.
Após 50
lançamentos, acaba o jogo e ganha o time com maior número de gols.
Analisando os
resultados do jogo
Transcrevendo no
caderno os resultados gravados no quadro e sua opinião pessoal, o
aluno deve refletir sobre o time vencedor: será que ele ganhou
apenas por ter tido mais sorte? Quando lançamos dois dados, de que
maneiras eles podem cair? Podemos ver todas as possibilidades fazendo
uma tabela:
Dado
2 →
Dado
1 ↓
|
1
|
2
|
3
|
4
|
5
|
6
|
1
|
2
|
3
|
4
|
5
|
6
|
7
|
2
|
3
|
4
|
5
|
6
|
7
|
8
|
3
|
4
|
5
|
6
|
7
|
8
|
9
|
4
|
5
|
6
|
7
|
8
|
9
|
10
|
5
|
6
|
7
|
8
|
9
|
10
|
11
|
6
|
7
|
8
|
9
|
10
|
11
|
12
|
Juntos, os dois
dados produzem 36 possibilidades.
Observe, na
tabela, quantas das possibilidades dão soma 4 e quantas dão soma 7.
A soma 4 tem 3 possibilidades em 36. Em outras palavras, ela tem 3/36
das chances. Já a soma 7 tem 6/36 das chances.
Com essa tabela,
pode-se entender que alguns times começam o jogo da soma com mais
chances que outros. A vitória de certos times não é pura sorte.
Curiosidades
que ensinam
A partir do final
do jogo, pode-se lançar ao aluno uma infinidade de perguntas
interessantes:
• Olhando a
tabela, será que ele vê muitas chances para a soma 2?
• Qual é
realmente a chance da soma 2? (Ele deve expressar esse resultado em
forma de fração e em forma de porcentagem).
• Será que ele
escolheria a soma 2, caso pudesse escolher?
• Qual a
porcentagem obtida em cada uma das somas 5, 7, 9 e 12?
• Será que as
porcentagens obtidas no jogo são aproximadamente iguais às
porcentagens teóricas?
• No lançamento
de um único dado, qual seria a chance do resultado ser 6? e qual a
chance do resultado ser um número primo?
• Lançando
dois dados e multiplicando o número de pontos obtido em cada um, o
aluno deve construir uma tabela mostrando todas as possibilidades de
lançamento dos dois dados. Em quantas possibilidades o produto é
12? Quais as chances do produto ser 6? Há chance de o produto ser
17?
Conclusão
No trabalho com
Probabilidades no Ensino Fundamental, os problemas podem e devem ser
simples para serem conduzidos rapidamente. As atividades são
numerosas e simples para os objetivos que se devem atingir. Como se
trata quase sempre de processos gráficos e de levantamentos em um
dado universo, o interesse certamente será despertado pelo tipo de
trabalho realizado. Uma vantagem é a não necessidade de grandes
cálculos algébricos e outros artifícios. Por enquanto, a teoria
deve ser apenas suplementar. Partem-se das experiências práticas
para explicá-la.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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