Ensino
de Matemática melhora, mas ainda faltam professores
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
A média da
pontuação que avalia o aprendizado dos alunos do Ensino Fundamental
em Matemática na rede pública de ensino tem crescido nos últimos
anos, segundo dados de 2011 do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb), embora ainda esteja abaixo do esperado. O cálculo é
feito com base nas médias dos resultados dos alunos em Português e
Matemática na Prova Brasil, parte do Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica (Saeb). O valor adequado em Matemática para um
aluno do 5o
ano, segundo o Índice, é de 225, sendo que, no ano passado, a média
alcançada foi de 215.82, um aumento em relação a 2009 mais tímido
do que o verificado nos biênios anteriores.
O último
resultado divulgado do Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), no entanto, mostra um quadro
bem menos otimista da situação: 31% dos estudantes brasileiros de
15 anos avaliados estão apenas no nível 1 de aprendizado, em uma
escala de seis níveis desenvolvida pelo programa. Os números
colocam o Brasil no 57o
lugar no ranking do Pisa. Os primeiros países do ranking são China,
Coreia e Finlândia, onde menos de 10% dos estudantes estão no nível
1; em Hong Kong, na China, 30,7% dos jovens alcançaram os níveis 5
e 6. Para Irene Maurício Cazorla, diretora geral do Instituto Anísio
Teixeira (IAT) (órgão em regime especial da Secretaria Estadual de
Educação da Bahia), o resultado é triste, porém real: “O mundo
mudou substancialmente e a escola e os cursos de Licenciaturas não
acompanharam essas mudanças. As dificuldades de aprendizagem se
acumulam ano após ano e quando os alunos chegam ao Ensino Médio,
não têm os pré-requisitos necessários para trabalhar os conteúdos
matemáticos por falta de base”.
Marcelo Borba,
pesquisador do Grupo de Pesquisa em Informática, Outras
Mídias e Educação Matemática
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), diz que o problema da
educação matemática está num círculo vicioso: “As pessoas se
assustam e passam o medo para as novas gerações. Para recuperar a
educação e o ensino da Matemática, é fundamental que sociedades
promovam ações para mudar a imagem pública da Matemática”.
Borba aponta iniciativas como a do Conselho de Pesquisa em Ciências
Sociais e Humanas (Social Sciences and Humanities Research Council)
do Canadá, que mantém atualmente o programa “Performing new
images of mathematicians”, com o objetivo de desconstruir a imagem
que o senso comum tem dos matemáticos através da expressão
artística da Matemática. “Eu não sou a favor, por exemplo, do
excesso de competições e provas; não favorece. Se você tem 90% de
fracasso numa competição, como é que você vai mudar a imagem
pública da Matemática?”.
Iniciativas como
a Prova Brasil e o Saeb, segundo o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que os realiza, têm
o objetivo de realizar um diagnóstico do sistema educacional
brasileiro e servem de parâmetro para traçar políticas públicas
em educação. Já a tradicional Olimpíada Brasileira de Matemática,
disputada anualmente desde 1979, de acordo com seu site, “visa
empregar competições matemáticas como veículos para a melhoria do
ensino de Matemática no país, além de contribuir para a descoberta
precoce de talentos para as ciências em geral”. Embora os dados do
Pisa mostrem uma avaliação geral ruim de nossos alunos de 15 anos,
o Brasil tem conseguido bons desempenhos individuais em competições
internacionais da disciplina. Na última Olimpíada Internacional de
Matemática, realizada em julho de 2012, ficou em 19o
lugar, entre os 100 países participantes, com uma medalha de ouro,
uma de prata, três de bronze e uma menção honrosa.
Atividades
lúdicas, jogos, materiais diferenciados, segundo Cazorla, são
alternativas de ensino que têm dado bons resultados, mas ela faz uma
ressalva: “Há de se ter cuidado, pois muitas vezes, durante o
jogo, se perde a institucionalização dos conteúdos conceituais e
procedimentais implícitos no jogo. Além disso, em geral, o jogo
demora mais tempo para contextualizar o conteúdo matemático e
depois resta pouco tempo para trabalhar o conteúdo matemático em
si. Por essa razão, nós do IAT acreditamos que o jogo deve ser
trabalhado no contraturno, junto com outras atividades que enriqueçam
a contextualização e a interdisciplinaridade do conhecimento
matemático com as outras ciências”. A diretora do instituto cita
como exemplo o projeto “Equações de 1o
grau: o xis da questão”, desenvolvido pelo professor baiano
Vanildo dos Santos Silva e premiado pela 4a
edição do Professores
do Brasil,
do Ministério da Educação (MEC), em 2009. No jogo, o professor
materializa a incógnita da equação na forma de uma caixa fechada
que contém uma quantidade de bolas de gude desconhecida pelos
alunos; a partir daí, o professor afirma, por exemplo, que se
adicionar uma bola à caixa, chegará ao número de dez e está
formada a equação. “Tem muita coisa boa sendo feita nas escolas,
mas que fica nelas. Precisamos trazer à luz essas experiências”,
diz Cazorla. Um espaço em que as iniciativas que saem das escolas
ganham visibilidade é a Feira Baiana de Matemática, que este ano
chegou à sétima edição. O evento reúne e premia projetos
desenvolvidos por alunos e professores da rede estadual de ensino a
fim de incentivar o aprendizado da disciplina.
Por outro lado, a
diretora do IAT ressalta a melhora na qualidade dos materiais
didáticos tradicionais: “O Brasil tem avançado
significativamente, os livros didáticos hoje têm bastantes
inovações e sugestões de atividades interessantes para os
professores. Também há bastante pesquisa sobre metodologias de
ensino. Talvez o ponto chave, hoje, seja transformar os resultados
das pesquisas da academia em materiais acessíveis aos professores,
em especial para a escola pública. Nesse sentido, já existem
iniciativas de mestres que defenderam suas dissertações nos
mestrados profissionais em educação matemática, que escrevem para
os professores, isto é, com uma linguagem acessível ao professor,
levando em consideração as condições da escola”. Em São Paulo,
por exemplo, Luiz Márcio Imenes, engenheiro civil pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e mestre em educação
matemática pela Unesp, e Marcelo Lellis, mestre em educação
matemática pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São
Paulo, são autores de uma série de livros voltados para o professor
de Matemática.
Apesar de boas
iniciativas como essas, faltam professores de Matemática no ensino
básico e a procura pelos cursos de licenciatura, em geral, anda em
baixa. Cazorla afirma que a tendência decrescente, tanto na procura
quanto no número de graduados em licenciatura, é maior nos cursos
de Física, Química e Matemática: “Temos escolas onde não
conseguimos professores, nem por concurso, nem por contrato
temporário”. Dados da pesquisa “A evasão no ensino superior
brasileiro”, de 2007, apontam a Matemática como a área com maior
taxa de evasão em 2005, em torno de 44%. “A demanda de mão obra
qualificada em outras áreas econômicas é mais atrativa e,
infelizmente, a remuneração dos professores ainda fica aquém das
expectativas dos jovens”, explica Cazorla.
A diretora aponta
o problema salarial como uma questão chave para a recuperação do
ensino no país: “A remuneração deveria permitir ao professor se
dedicar apenas a dar aulas em uma única escola. Hoje, a maioria dos
professores trabalha 60 horas por semana, nos três turnos, em no
mínimo duas escolas. Essa alta rotatividade de turmas e alunos faz
com que os professores mal consigam preparar as suas aulas, inserir o
uso de softwares matemáticos, usar jogos ou materiais ou, ainda,
outras atividades que implicam apoio da escola”. Borba endossa:
“Melhorar o piso nacional dos professores é o primeiro passo na
direção certa, mas também é preciso apostar em tecnologias
digitais, em outras mídias. Não que a tecnologia vá salvar o
ensino, mas abre possibilidade para novas investigações”,
finaliza.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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