A
importância da tabuada
(Artigo
organizado por Marcos Antônio Colins, professor de Matemática da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão)
A calculadora não
dispensa uma boa compreensão das operações, nem o aprendizado da
tabuada. O aluno precisa aprender a tabuada hoje, tanto quanto no
tempo em que não existia calculadora. Qualquer um deve saber
responder – e responder rapidamente – a perguntas como: 7 vezes
8?, 9 vezes 6?, 5 vezes 8?, e assim por diante. É preciso ter
cuidado para que o uso da calculadora não deixe de lado o
aprendizado da tabuada e uma boa compreensão das operações.
Digo isso porque
o aprendizado da tabuada tem sido muito negligenciado ultimamente,
depois que surgiu a calculadora. Houve mesmo casos de muitos
professores que pensavam (ou ainda pensam?) que agora, com a
calculadora, a tabuada perde sua importância. Não é assim. Não é
apenas porque alguns de nós somos mais velhos que insistimos no
aprendizado da tabuada, mas é porque esse aprendizado continua tão
importante hoje como antigamente. Se não, vejamos: você vai à
padaria, compra 7 pãezinhos, a R$ 0,12 cada um, e paga com uma moeda
de R$ 1,00; quanto vai receber de troco? Esse é o tipo de situação
que qualquer pessoa deve resolver “de cabeça”; são cálculos
triviais. Se alguém me disser que ninguém tem de saber 7 vezes 12
de cabeça, eu respondo: então deve saber que 5 vezes 12 é 60;
agora some mais 12, vai para 72; e some outros 12, vai para 84.
Pronto, 7 pãezinhos custam 84 centavos; um real menos 84 centavos
(que é o mesmo que 96 centavos menos 80 centavos) dá 16 centavos,
que é o troco devido. Essa última conta do troco poderia também
ser feita assim: de 84 até 90 são 6, ao qual somamos 10 para chegar
até 100, ao todo 16 centavos.
Cálculos como
esses são necessários na vida de qualquer cidadão, por isso é
importante saber a tabuada e saber fazer contas simples como essas,
sem recorrer a lápis, papel ou calculadora. E, como já dissemos
acima, é um bom exercício para desenvolver bem a compreensão das
operações. Eu pergunto: não seria o caso de passar boa parte das
aulas fazendo tais exercícios? E depois organizar os alunos em
grupos e fazer competições entre os grupos? Seria um modo de tornar
a aula descontraída, engraçada e agradável, ao mesmo tempo que se
estimularia o interesse dos alunos nesses exercícios de compreensão
das operações e de memorização.
Decorar
é preciso
As pessoas que
consideram desnecessário decorar a tabuada talvez pensem que
“decorar”, de um modo geral, seja uma atividade menos nobre e sem
valor algum. Isso não é verdade. “Decorar” é um importante
exercício para a memória. E uma boa memória – privilégio de
poucos – é um valioso auxiliar da atividade intelectual. Qualquer
cidadão brasileiro sabe (ou deve saber...), de cor, o hino nacional.
Convém lembrar que atores de teatro decoram peças inteiras. Sabendo
a peça de cor, e não dependendo de alguém (o “ponto”) para o
auxiliar, o ator fica “dono de si”, portanto, mais capaz de fazer
uma boa interpretação do personagem que irá representar.
Cálculos
aproximados
Voltando
a falar de cálculos, é claro que não faz mais sentido, hoje em
dia, insistir com os alunos para que aprendam a fazer, manualmente,
cálculos como 3,21897 ×
9,38 ou 2,801799 ÷ 1,98, como era exigido antigamente. Mas, embora
não tenha de fazer contas como essas, o aluno de hoje deve estar
preparado para saber, por um rápido exame, que a primeira dessas
contas resulta em aproximadamente 3 ×
10 = 30, enquanto a segunda se aproxima de 2,8 ÷ 2 = 1,4. Conferindo
com a calculadora, vemos que a primeira dá 30,1939386 e a segunda,
1,41505.
Essa questão do
cálculo aproximado é muito importante e deveria merecer a devida
atenção nos programas do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Conclusão
Como se vê, há
vários recursos simples que muito facilitam as contas e que vão
sendo aprendidos quanto mais o aluno se exercita na resolução
numérica dos problemas. Portanto, não é verdade que com o advento
da calculadora o professor está agora dispensado de ensinar a fazer
contas. Há muito o que ensinar sobre isso, e coisas muito úteis. Se
hoje em dia não há por que ocupar os alunos em trabalhosas contas
de multiplicar ou dividir, como se fazia antigamente, não só as
operações e suas propriedades têm de ser ensinadas, mas as
técnicas de cálculo também merecem igual cuidado. Agora, quando
lidamos com cálculos complicados, envolvendo raízes quadradas,
logaritmos, funções trigonométricas etc, o uso da calculadora é
indispensável e se revela um “alívio” para o usuário.
[Contato:
macolins@gmail.com]
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